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Bosques da Memória: as árvores da perpetuação da vida

Atualizado: 14 de jun. de 2022

Uma campanha por plantio de árvores, recuperação da floresta, homenagens às vítimas da Covid-19 e solidariedade aos profissionais da saúde.


Área do Parque das Dunas, onde ocorreu o plantio de árvores do programa Bosques das Memória. Foto: Sebastião Monteiro


Bosques da Memória é uma campanha de âmbito nacional de plantio de árvores, com o intuito de promover o reflorestamento da Mata Atlântica (substituição das espécies exóticas palas nativas) e a preservação da flora e fauna brasileiras; de solidariedade às famílias enlutadas pela Covid-19 e de apoio e gratidão aos profissionais de saúde, que, para salvar vidas, muitos deles puseram em risco suas próprias vidas.


Com a pandemia da Covid-19, o caos sanitário se instaurou, com muitas mortes e a tristeza dos familiares e amigos das vítimas da doença, que sequer puderam se despedir e prestar as últimas homenagens, de forma presencial aos seus entes queridos que perderam a vida.


Simultaneamente à tragédia provocada pela disseminação do coronavírus (SARC-CoV-2) e suas inúmeras variantes, o meio ambiente também vem sofrendo baixas terríveis em decorrência do desmatamento mecânico, das queimadas e quase destruição total das florestas e da fauna.

Nas duas situações, há tragédias humanas ou ambientais, nas quais vidas tombam ao chão. E, ambas as catástrofes, de modo geral, seres vivos estão morrendo, já que os ecossistemas (fauna e flora) e o homem são seres vivos simbióticos, que precisam da comunhão de esforções para que vidas sejam poupadas.


Entretanto, pela ação humana (ou por omissão simples ou deliberada), está havendo um desequilíbrio de forças, resultando nos desastres e conflitos ambientais que se alastram e, assim como os familiares das vítimas da Covid-19, a fauna e a flora pedem socorro. De um lado, a crise sanitária provocada pela Covid-19 e, do outro, a crise climática, as quais trazem prejuízos drásticos à sobrevivência no Planeta Terra.


​Em 2020, sensibilizadas com o estado destrutivo contra vidas e, no intuito de estimularem ações que revitalizassem as memórias, algumas ONGs envolvidas na preservação da Mata Atlântica se uniram e arquitetaram o projeto de alento e solidariedade às famílias das vítimas da Covid-19, de forma a preservar o ecossistema (com reposição gradual da floresta) e manterem vivas na memória (por intermédio de uma árvore) as lembranças dos parentes que a doença levou.


As organizações da sociedade civil criaram o projeto Bosques da Memória, uma iniciativa que, por intermédio do plantio de uma árvore, o familiar da vítima da Covid-19 promove a conservação da vida silvestre e restaura a floresta e, ao mesmo tempo, homenageia o ente querido levado pela doença e expressa sua gratidão aos profissionais da saúde.

Em todo o território nacional, os plantios tiveram início em dezembro de 2020 e foram apoiados pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em alinhamento com as ações da Década da ONU da Restauração de Ecossistemas 2021-2030.


De acordo com Tim Christophersen, chefe de Natureza para o Clima do PNUMA, “esta é uma grande iniciativa porque mostra múltiplas dimensões da restauração – isto é, que a restauração tem a ver com a cura de nossa relação com a natureza e ao mesmo tempo é uma experiência de cura para nós mesmos”, afirmou.


Segundo Sandra Kelly Araújo, professora da UFRN e diretora do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES/UFRN), falando sobre a adesão ao programa Bosques da Memória em Caicó-RN, disse “nós vivemos uma experiência ímpar nas nossas vidas, porque, no momento do plantio, nós víamos as pessoas totalmente envolvidas naquela árvore, tal como se ela representasse aquela pessoa que ela não teve condição de se despedir (...).


Da adesão de Natal à campanha Bosques da Memória


Em dezembro de 2020, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema), por meio do Parque Estadual Dunas do Natal “Jornalista Luiz Maria Alves”, implantou e realizou a primeira edição da campanha de plantio de mudas em homenagem às vítimas da Covid-19, no Rio Grande do Norte e vem sendo feito, na área de uso público da Unidade de Conservação (Bosque dos Namorados).


A gestora do Parque das Dunas, Mary Sorage, a mentora intelectual e entusiasta pela adesão ao programa Bosques da Memória, expressou o seu contentamento por poder contribuir com ações que possam representar homenagens às vítimas da Covid-19.


Queremos dar às pessoas a oportunidade de homenagear seus entes queridos vítimas do coronavírus, agradecer aos profissionais da saúde e ajudar a Natureza. O plantio de árvores é um gesto simbólico importantíssimo e que representa vida, como sinônimo de continuidade, amor e respeito. Poder plantar uma árvore e acompanhar seu crescimento traz esperança para quem está enfrentando o luto. Assim esperamos ofertar um momento de empatia e compartilhamento”, afirmou Mary Sorage.


A bióloga, que é bolsista do Parque das Dunas, Lúcia Cavalcante, foi uma das pessoas que perderam familiares em decorrência da Covid-19 e, nesta condição, participou da campanha Bosques da Memória, plantando uma árvore, em homenagem a sua irmã Veronilma Souza e, com bastante emoção, expressou o sentimento de gratidão, agradecendo à criação e importância do projeto.


A bióloga Lúcia segura a planta que homenageia a sua irmã Veronilma que perdeu a vida para a Covid-19. Foto: Sebastião Monteiro


“Perdi minha irmã Veronilma Souza para a covid e plantando uma árvore na campanha Bosques da Memória, principalmente no Bosque dos Namorados, deu-me alento para compreender que a força do desenvolvimento e crescimento de uma árvore fixa nos sentimentos, a certeza de que as pessoas seguem para o além e fica a exuberância da força representada na árvore, fortificando nossa força e fé com Deus e a natureza”, disse Lúcia.


De acordo com Elaine Rayssa, gestora ambiental do Parque das Dunas, o programa Bosques da Memória já executou três etapas em Natal, com o plantio de 239 plantas em homenagem às vítimas da Covid e em solidariedade com os profissionais da saúde.


Segundo Rayssa, já foram realizadas 3 etapas de plantio das mudas objeto da campanha Bosques da Memória, realizadas no dia 17 de dezembro de 2020 (56 mudas), campanha efetivada apenas com os funcionários do IDEMA; no dia 07 de janeiro de 2021 (133 mudas), com inscrições abertas para o público externo e execução por este e, no dia 05 de junho de 2022 (50 mudas), campanha feita com o público que frequentava o Parque das Dunas naquele domingo.


A gestora ambiental, mesmo entendendo que esperava maior adesão do público alvo da campanha, compreende que a pandemia da Covid-19 tem causado tensão, medo e desespero. Acredita, ainda, que as restrições de deslocamento da população para evitar a disseminação da doença, impostas pelas medidas de isolamento e distanciamento sociais, contribuíram para que as pessoas circulassem menos nos espaços com maior movimentação de pessoas, como no Parque das Dunas.


“Perdemos muitas pessoas para a Covid-19, e não tivemos a oportunidade de passar os últimos momentos de vida ao lado deles, nem se quer nos despedir da forma que mereciam, e o Bosques das Memórias nos deu a oportunidade de externar esse sentimento através do plantio das mudas nativas. Foi muito especial”, falou Rayssa.


De acordo com o engenheiro florestal do Parque das Dunas, Giliard Santos, o programa Parque da Memória “Foi um momento simbólico para homenagear todas as vítimas da Covid-19 através do plantio das mudas, pois ela irá crescer e se tornará uma bela árvore, vai se multiplicar, abrigar e alimentar outras vidas. Isso representando à esperança”, disse.


O engenheiro acrescentou, ainda, que a campanha não tem o único objeto de reflorestamento, mas a tríplice destinação. “Essa será uma ação com três significados: combate às espécies exóticas, homenagem às vítimas de Covid-19, e sensibilização sobre a importância de se plantar uma árvore”, afirmou.


Para Alan Roque, biólogo e botânico do Parque das Dunas e coordenador do projeto Bosques da Memória (pelo Idema), o plantio das mudas é um momento muito emocionante, no qual as pessoas se abraçam e parecem criara vínculos com árvore plantada.


“É muito gratificante que a gente tenha esta atividade, principalmente pelo parque ser uma unidade de conservação, de proteção integral e a gente está, além de prestando esta homenagem, a gente está ajudando a uma área de Mata Atlântica a ser recuperada. Então, é um trabalho muito bonito e faz com que as pessoas vinculem e agreguem um sentimento de cuidado, de carinho com aquela espécie plantada. Então, é muito interessante isto”, falou Roque para o Podcast Conversas do Bem, com Adri Torquato.


Da adesão de Caicó à campanha Bosques da Memória


Além da adesão do Parque das Dunas ao projeto Bosques da Memória, com funcionamento na área de uso público da Unidade de Conservação (Bosque dos Namorados), a cidade de Caicó, também aderiu ao programa.


Ao falar para o podcast Conversas do Bem, a professora Sandra Kelly disse que soube da campanha através do Idema e logo solicitou a adesão do Campus da UFRN (Seridó), que foi aceito.


De acordo com Kelly, “Caicó foi o primeiro local da Caatinga a aderir ao projeto Bosques da Memória e à ideia de plantar árvores nativas em homenagem às vítimas da Covid-19 e também aos profissionais de saúde, que por muito tempo se envolveram nessa grande e significativa tarefa”, disse.


A professora acrescentou, mais, que, mesmo Caicó sendo uma cidade pequena, muitas pessoas foram vítimas da Covid-19, o que a motivou solicitar a adesão da UFRN à campanha, pois seria a possibilidade de fazer algo para minimizar o sofrimento daquela gente.


“E a possibilidade de homenageá-las através do plantio de árvore, representava, inclusive, em síntese, do que está relacionada à figura de uma árvore. Uma árvore que produz frutos, uma árvore que abriga, uma árvore que dá alimento, uma árvore que dá sombra e alegria, que também são essas pessoas que partiram por conta da Covid-19. São pessoas que estão muito próximas a todos nós e que numa simbologia, numa analogia, a árvore representa muito bem estas pessoas no momento nos deram colo, nos proporcionaram alegrias, nos deram abrigos e nos deram alimento”, falou Sandra.


Ao podcast Coisas do Bem, a comunicadora Adri Torquato, tratando do tema “As arvores da vida”, exatamente em alusão ao projeto Bosques da Memória, enaltece o efeito multiplicador que a campanha traz, com a possibilidade de preservar vivos os ecossistemas, além de trazer alento às famílias que perderam os seus entes querido para a Covid-19 e de gratidão ao profissionais de saúde.


“Aproximadamente 700 mil pessoas mudaram a sua condição física para o espiritual, que culturalmente chamamos de morte. Sem admitir sequer os rituais de despedida, provocou muita dor a milhares de pessoas. Sofrimentos psicológicos intensos. Um luto individual e coletivo, dificilmente visto no país”, disse Torquato.


Do plantio e acompanhamento

Cada família das vítimas da Covid-19, escolhe uma muda produzida entre as várias espécies nativas, produzidas no viveiro do Parque das Dunas e, se quiser, vai acompanhando o desenvolvimento daquela plantinha. Após o plantio, a manutenção e monitoramento ficam a cargo do Parque das Dunas.


Espécies de mudas disponibilizadas pelo Parque das Dunas.

A organização do evento assegurou uma diversidade de espécies de árvores nativas da região da Mata Atlântica, incluindo variedades dos biomas brasileiros, tais como peroba rosa, ipê-roxo, maçaranduba, jenipapo bravo, ubaia-doce, cumichá, guabiraba de pau, guabiraba aromática, paineira lisa, batinga vermelha, quiri, dendaleira, ingá feijão, ingá – mirim – branco, mutamba, pau-brasil, cauaçú, Pau-mulato, jatobá, murta vermelha, pau-sangue e amescla-de-cheiro.


Da Campanha Bosques da Memória

Trata-se de uma campanha promovida de forma conjunta pelas instituições Rede de ONGs da Mata Atlântica - RMA, da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica - RBMA e do pacto pela Restauração da Mata Atlântica. É desenvolvida de forma participativa e colaborativa.


Para maiores informações sobre a Campanha Bosques da Memória no site:

www.bosquesdamemoria.com


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