O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do RN (CREA-RN) identificou danos causados à Ponte de Igapó após a explosão de um artefato na tarde da ultima terça-feira (21), e recomenda a interrupção do tráfego na área atingida, sentido bairro Nordeste. Em contrapartida, o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) disse que não há risco de colapso, mas que há danos estruturais. Anunciou também intervenções na área, ainda sem prazo ou orçamento definidos. O órgão deve enviar uma equipe para uma nova análise no local para avaliar as possíveis intervenções.
Equipe do Crea visitou ontem o local onde foi detonado o explosivo. Ataque causou danos, que não colocam em risco iminente a estrutura. Liberação do trânsito pela STTU será adiada / Magnus Nascimento
Mesmo que no momento a faixa afetada - sentido bairro Nordeste - não esteja sendo usada, era plano da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) coloca-la em uso no início desta semana, informou o secretário adjunto da STTU, Walter Pedro. No entanto, isso não aconteceu devido aos constantes ataques a propriedades públicas e privadas em grande parte do Estado. Agora, a perspectiva é estudar um método de fazer a inversão da via sem passar pelo trecho danificado. Uma análise será feita em conjunto com a empresa contratada pela obra na Felizardo. Contudo, o DNIT também participará desta decisão, mas disse antes que não estava ciente da inversão da faixa, mesmo que tivesse acesso ao plano de obras enviado pela STTU, como disse o superintendente, Eider Rocha.
“Não há risco de colapso para a estrutura, o elemento estrutural foi danificado, mas ele não compromete a segurança e estabilidade global da ponte”, disse o superintendente do DNIT RN, Eider Rocha. O próximo passo, de acordo com ele, é convocar uma nova vistoria com uma empresa contratada pelo departamento. Dessa forma, poderá ser feito um aditivo para que essa empresa possa realizar a intervenção.
Detalhes como a interdição completa da via e tempo de obra também serão definidos pela empresa contratada, mas adianta que a burocracia envolvida no processo pode tomar tempo. “Quem poderá definir isso é a empresa que vem fazer um primeiro diagnóstico, mas certamente esse reparo não é tão imediato assim, a ponto de nós pensarmos apenas dias para sua solução”, complementa a superintendência regional.
O CREA, por sua vez, enfatiza a necessidade da interdição da via e diz que irá enviar um relatório para o DNIT com sugestões e explicação sobre os danos encontrados. “Nós vamos, com certeza, entregar um relatório ao DNIT sobre o que a gente encontrou e nosso especialista Fábio Pereira também. A gente vai apresentar soluções”, afirmou a presidente do conselho, Ana Adalgisa.
Já o diretor do ITEP, Marcos Brandão, por sua vez, negou qualquer vínculo do órgão com análises estruturais da ponte, e especificou que a análise feita na quarta-feira (22) – um dia depois da explosão – aconteceu na intenção de tentar identificar a autoria do crime. “Deve ser entendido que o Itep é um órgão de perícia criminal. Ele é um órgão encarregado da prova material em casos de crime”, disse. Em vídeo, ele havia dito que a bomba não tinha causado estragos.
Comentou ainda que a perícia foi feita pelo setor de engenharia legal, que não analisa a estrutura, mas o uso da estrutura para concretização de um crime. De acordo com Brandão, esse trabalho não entra em divergência com o do CREA, pois são entidades de diferentes atribuições. “Ninguém está interferindo no trabalho do Crea, ninguém está interferindo do trabalho do DNIT. Isso são determinações legais, nós seguimos determinações legais regidas pelo processo penal”, complementa.
Dano estrutural
O CREA já acompanha a situação da Ponte de Igapó desde 2015. A ultima vistoria aconteceu em 2019, quando foram feitos serviços nos pilares opostos, ou seja, no sentido Zona Norte, por um problema de corrosão. Esse foi o ponto chave para entender o tipo de dano encontrado e porque esse dano foi causado pelo artefato. Os ferros expostos nas rachaduras mais recentes, por exemplo, não apresentam sinais de desgaste pelo tempo, como ferrugem.
Crea, Dnit e Itep realizaram ontem entrevista coletiva para falar sobre a Ponte de Igapó. Órgãos deram declarações divergentes nos últimos dias / Líria Paz
O conselheiro do CREA, Fábio Pereira, comentou ainda as especificidades do dano encontrado. “Com a explosão, ocorreu a liberação de cordoalha protendida (metal que dá sustentação à estrutura), ou seja, a cordoalha não está mais em funcionamento. É justamente o que dá funcionamento ao tabuleiro”, diz. De acordo com ele, é preciso fazer uma intervenção na área, chamado de protensão externa, uma espécie de reforço da estrutura que ajuda na sustentação da ponte. Essa etapa é de responsabilidade do DNIT.
De acordo com a presidente do conselho, Ana Adalgisa, não é recomendado permitir fluxo intenso de veículos no trecho afetado. “Esse lado aqui de Igapó tem que ser liberado só após o serviço de reforço com concreto protendido. Depois do reforço é que deve ocorrer essa liberação dessa parte”, disse. A vistoria contou com a participação de engenheiros do conselho, entidades representativas de classe, e ainda a participação de técnicos do DNIT, que no momento preferiram não dar entrevista.
“Não é natural, foi causado pelo artefato onde teve uma expansão. Se fosse natural, teria que ter uma corrosão das armaduras, teria uma fissuração, depois uma expansão e aparecimento da barra com corrosão. Se vê que a barra a aparece sem corrosão e também pela deformação ocorrida tanto de um lado como de outro”, explica Fábio Pereira.
Entenda a divergência sobre os danos à ponte
Na terça-feira (21), um grupo de criminosos colocou um artefato em uma das vigas da Ponte de Igapó. A explosão assustou moradores, comerciantes e passageiros que transitavam pelo local. Alguns deles afirmaram ter sentido tremores. Em vídeos que circularam nas redes sociais, motoristas se mostravam apreensivos com o estrondo.
Em seguida, a PM afirmou se tratar de um recipiente com pólvora prensada, similar a fogos de artifício. No dia seguinte, o Itep realizou uma vistoria no local. Uma equipe de Engenharia Legal foi deslocada para realizar o trabalho. Como conclusão, o diretor do instituto, Marcos Brandão, afirmou que a explosão não havia causado danos estruturais e que a rachadura encontrada na base da ponte havia sido causada pelo desgaste ao longo do tempo.
Na manhã de ontem, o CREA realizou uma segunda vistoria, esta na intenção de analisar a extensão dos danos, já que o conselho já acompanha a situação estrutural da ponte há anos. O resultado foi o oposto ao do instituto. A equipe de engenheiros percebeu que a rachadura encontrada era sim resultado da explosão e recomendou, ainda mais, o bloqueio total da via. Ao longo do dia, a notícia repercutiu negativamente entre os natalenses.
Ponte tem histórico de danos
A Ponte Velha, como é conhecida, foi construída na década de 80, tornando-se assim o único elo de ligação entre os dois extremos da cidade e liga a zona norte às demais regiões de Natal. A princípio, funcionava com apenas duas faixas. Contudo, com o crescimento populacional da zona norte, foram implementadas mais duas faixas, tornando-se assim, duas pontes lado a lado. Cada uma delas passou a funcionar em um sentido. Ao longo do tempo, o local passou por diversas intervenções devido aos danos causados pelo tempo.
Problemas como rachaduras aparentes e falta de guarda-corpo deixam em evidência a falta de cuidados com a estrutura. Há pouco mais de um mês, a reportagem da TRIBUNA, esteve no local. Foi possível ouvir histórias, inclusive a de um homem que quase caiu no rio pela falta dos guarda-corpos. À época, o DNIT não respondeu quando essa situação em específico seria resolvida, mas já falava em vistoria e emissão de parecer técnico.
Em 2019 o órgão realizou sua última intervenção até então. Foram feitos repartos emergenciais em colunas e vigas após recomendações do CREA – RN. Na ocasião, foram constatadas 16 anomalias estruturais, mas os reparos foram paliativos, com aplicação de produtos anticorrosivos nas ferragens que estavam expostas e cobertura de nova camada de concreto. O investimento foi de R$ 1,1 milhão do Ministério da Infraestrutura.
Com informaçõoes da Tribuna do Norte.
Comments