O setor produtivo do Rio Grande do Norte está otimista com o cenário econômico que se desenha para o novo ano. Apesar de boa parte das entidades representativas do Estado apontar cautela em relação às mudanças políticas do País, é consenso entre as fontes ouvidas pela TRIBUNA DO NORTE que os principais segmentos da cadeia produtiva irão performar bem em 2023. Os destaques devem ser o turismo e o setor de eólicas – este último duplicou a capacidade de geração de energia onshore (em terra). O otimismo se justifica, de acordo com as fontes, pela conclusão de que os efeitos da pandemia de covid-19, com reflexos ainda em 2022, devem ficar cada vez mais no passado.
O Estado tem potencial de exploração eólica onshore duas vezes maior que o estimado há 20 anos e capacidade de expandir a geração / Reprodução
Para o economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), William Eufrásio Nunes, o crescimento será puxado pela maior circulação de recursos na economia e pela retomada dos investimentos públicos em âmbito nacional. “Se a gente compara, já percebe um aumento de recursos em circulação na economia em 2022 em relação ao ano anterior, fruto da reabertura das atividades econômicas e isso tende a continuar em 2023. O fim da pandemia vai dar espaço e condição para a economia voltar a crescer”, afirma o economista.
“Havendo uma retomada da economia como um todo, teremos repercussões no Rio Grande do Norte. O turismo e os serviços ligados ao setor (hotéis, bares e restaurantes) vão voltar a crescer com taxas mais significativas. Temos também a produção de energia eólica, que gera muito emprego com a montagem de parques e já há uma série deles aprovada no RN”, destaca o professor. Os bons ventos que prometem levar 2023 a um ecossistema de crescimento começaram a soprar no Estado ainda em 2022 para o segmento de energias renováveis.
De acordo com dados do Atlas Eólico e Solar do Rio Grande do Norte, divulgados no último dia 20 de dezembro, o Estado tem potencial de exploração eólica onshore duas vezes maior que o estimado 20 anos atrás e capacidade de expandir a geração dessa fonte em pelo menos 93 Gigawatts (GW) a 200 metros de altura – o equivalente a 15 vezes o que está em operação atualmente.
Além disso, o potencial para futura geração offshore – com parques eólicos no mar – alcança 54,5 GW e seria suficiente para suprir cerca de um terço de toda energia elétrica brasileira em 2020 (aproximadamente 651 Terawatts-hora). O Atlas é fruto de um Termo de colaboração firmado entre o Governo do Estado, através da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec), e a Federação das Indústrias (Fierm), com execução do Senai-RN, por meio do Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER).
“O RN tem capitaneado a energia eólica no País no onshore e a perspectiva é de se manter em alta, com muita atividade nos setores públicos e privados, com o desafio de se manter na vanguarda, tanto na produção quanto no desenvolvimento de tecnologias”, pontua Rodrigo Mello, diretor do Senai-RN e do Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis.
“Sem dúvidas, iniciativas nas áreas de desenvolvimento tecnológico, de pessoas e infraestrutura, com destaque para transporte de energia e estrutura portuária, serão áreas prioritárias para o setor, junto com Operação & Manutenção, para atender ao volume que existe em funcionamento, bem como as necessidades do que vêm por aí”, avalia Rodrigo Mello.
ABEEólica defende desburocratização de processos
Para Sérgio Azevedo, membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o Estado tem capacidade para liderar a produção nacional durante muitos anos. Para isso, contudo, é necessário que alguns gargalos sejam resolvidos. “Hoje a gente vive um grande problema com as linhas de transmissão e esperamos que isso se resolva nos próximos anos. Produzimos mais energia do que consumimos. Então, se não tiver linhas de transmissão para que a produção seja enviada para fora do Estado, não tem porque gerar energia aqui”, alerta Azevedo. No entanto, o desafio mais imediato, segundo aponta, é a desburocratização das licenças ambientais.
“Precisamos encontrar formas de agilizar os licenciamentos e, na verdade, estabelecer critérios objetivos de legalização dos empreendimentos eólicos do RN, uma vez que o mundo demanda energia renovável e a gente não pode ter obstáculos para ficar na contramão da preservação do meio ambiente e da busca da redução dos impactos climáticos”, indica Azevedo.
Cassio Maia, presidente da Associação Potiguar de Energias Renováveis (Aper), disse que 2023 será um ano desafiador para o setor de geração distribuída em todo Brasil, em virtude das novas regras que deverão impactar na rentabilidade de projetos. Ele destacou, entretanto, a abertura que o mercado terá até 2024. “A geração de energia distribuída vem crescendo ano após ano e passando continuamente por adaptações. Em 2023, não será diferente. As novas tecnologias e a abertura do mercado para todos os consumidores de média tensão em 2024, reforçarão a necessidade de especialização contínua”, explica.
No setor de petróleo e gás, o momento é de comemoração com o cenário de expansão atual, que deve se perpetuar em 2023, segundo o presidente da Redepetro, Gutemberg Dias. “Os números que nós temos são dos operadores (3R Petroleum e Potiguar E&P), com perspectiva de perfuração de poços. “A Potiguar fala em investir em torno de mais de R$ 200 milhões nos próximos 4 anos e a 3R fala em algo em torno de R$ 8 bilhões em período semelhante. Efetivamente, a cadeia voltou a ser dinamizada”, celebra Dias.
Abrasel projeta crescimento de até 15% em vendas
Os demais segmentos que compõem a cadeia produtiva do Rio Grande do Norte esperam desempenhos importantes em 2023. Turismo e comércio, considerados as principais atividades do Estado, devem ser impactados com estímulos ao consumo e ao incremento da produção, conforme as entidades ouvidas pela reportagem. “É necessário termos um ambiente econômico favorável e saudável para alavancar as atividades aqui desenvolvidas ou possibilitar o surgimento de outras. Acredito que a palavra-chave para o setor produtivo é incentivo.”, avalia o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomércio RN), Marcelo Queiroz. “Aparentemente os estímulos econômicos vão ser vocacionados ao consumo e, enquanto classe empresarial estamos atentos a isso”, afirma o diretor Financeiro da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Natal, André Macedo. O diretor nacional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Max Fonseca, prevê aumento de até 15% em vendas do setor. “Nossa projeção mais pessimista aposta em 5% de crescimento e a mais otimista, em 15%”, diz Fonseca. Outro dado que tem deixado a Associação confiante no cenário para o novo ano é a redução do número de empresas com operação no vermelho ao longo de 2022. “Iniciamos o 1º trimestre [de 2022] com quase metade das empresas operando com prejuízo e na mais recente pesquisa, de outubro passado, a gente tinha menos de 20% de empresas operando com prejuízo”, detalha o diretor da Abrasel. No Alecrim, principal centro comercial do Estado, a expectativa é aumentar em até 10% o faturamento das empresas, conforme estimativas da Associação dos Empresários do Bairro (Aeba), Matheus Feitosa. “O Alecrim faturou algo em torno de R$ 3 milhões ao mês com o comércio. Para dezembro, com os dados ainda em fechamento, a gente estima que esse valor deve dobrar ou chegar perto do R$ 5 milhões. O crescimento em relação a 2021 é de cerca de 5% e para 2023 esperamos melhorar esse percentual, que deve variar a até 10%”, prevê Feitosa. Para as pequenas empresas, o cenário também tem sido visto como promissor, a partir de ações do Sebrae, que tem a intenção de facilitar ampliar o atendimento aos pequenos empreendedores. “Vamos chegar os 167 municípios potiguares. Temos a perspectiva de aumentar o limite do Simples e ampliar o número de empregados para mais um trabalhador nesse modelo de empresa”, relata Zeca Melo, diretor superintendente do Sebrae.
Por Tribuna do Norte
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